segunda-feira, 27 de abril de 2009

Livros!


Sou apaixonada por eles, pelos de cozinha então...
E por trabalhar numa loja que tem uma livraria, acabo me beneficiando de alguns achados.
Livros por 1 real, 2 reais, 5, mas difícilmente esses achados passam de 20 reais.
E claro que os que acabam custando 20, são os que antes cutavam 80, 100, 120...
Hoje vou falar um pouco sobre um desses achados (ah, por essa facilidade, e pelas garimpadas, estou pensando em abrir uma conta no estante virtual).

Essa descoberta especial se chama: Está na mesa - Receitas com pitadas literárias (Rubem Alves e Christian Bauer), esse eu garimpei por $9,90. Mas vamos ao livro, Rubem Alves é um dos meus escritores favoritos, e sem dúvida alguma tem umas sacadas muito boas, tive o meu primeiro contato com ele através de um texto que falava sobre as pipocas (Está aqui abaixo), depois numa palestra sobre educação, e assim, me apaixonei!
Quando dei de cara com um livro que unia receitas e sacadas dele, como já li por aí... o livro tinha que ser meu.
Esse livro tem uma peculiaridade, a maioria das receitas são de "confort food" (termo adquirido recentemente por conta de um site alheio), sabe aquelas receitas de vó? de mãe? de interior? Receita pra "curar" doença, pra abrir sorriso, pra matar as bichas, pra esquecer de amor do passado. Confort Food.
Para aguçar os paladares, em uma receita de "Frango alcoolizado" há um trecho que diz assim: "A cozinheira existe para dar prazer. Essa é a sua arte. Ela sabe o Kama Sutra da boca: as infinitas maneiras de se fazer amor com os lábios, com a língua, com o nariz, com as víceras. Sim, com as víceras, porque há prazeres que só se revelam em sua plenitude no silêncio escuro de nossas alcovas de amor internas, Como o prazer do vinho..."

Esse é só um tira gosto, pra atiçar, aguçar, quem sabe, apaixonar?

Agora o texto das Pipocas:

A pipoca - Rubem Alves

A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.
Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária". Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.
Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.
As comidas, para mim, são entidades oníricas.
Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.
A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.
A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.
Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.
Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.
Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.
Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.
Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.
Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.
"Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.
Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.
Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á".A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...
"Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu".

O texto acima foi extraído do jornal "Correio Popular", de Campinas (SP), onde o escritor mantém coluna bissemanal.

domingo, 26 de abril de 2009

Cine-Gastronômica (Centro de Cultura Judaica)

Exibição de um filme "gastronomico" e na sequencia um workshop sobre os pratos do filme, esse mês, dia 28/04 Terça feira:

http://culturajudaica.uol.com.br/01b/visualizar.asp?id=1603



28/04 | CINE-GASTRONOMIA
19h00 Filme: A Grande Noite
21h00 Workshop de Culinária: Receitas Italianas


O projeto apresenta um filme relacionado à culinária, seguido de um workshop que ensina as receitas mostradas no filme.

CINE-GASTRONOMIA: A GRANDE NOITE
Gênero: Comédia | Direção: Campbell Scott e Stanley Tucci | País/Ano: EUA 1996

Anos 50. Dois irmãos, Primo (Tony Shalhoub) e Secondo (Stanley Tucci), emigram da Itália para os Estados Unidos. Eles pretendem abrir um restaurante italiano, chamado The Paradise. O mais velho, Primo, é um grande chef, um gênio na culinária, mas bastante temperamental, se recusando a fazer pratos convencionais e rotineiros. Secondo, o mais novo, tem uma mentalidade mais capitalista e tenta superar a grave crise financeira que estão passando. O proprietário de um restaurante de sucesso, Pascal (Ian Holm), propõe chamar um amigo dele, que é um grande músico de jazz, para ajudar a promover o restaurante. Assim os dois irmãos apostam todas as fichas em um cardápio fora de série, que será servido aos convidados desta grande noite. Ganhou o Independent Spirit Awards de Melhor Roteiro de Estréia, além de ser indicado nas categorias de Melhor Filme de Estréia e Melhor Ator (Stanley Tucci e Tony Shalhoub). Ganhou o prêmio de Melhor Roteiro, no Sundance Film Festival.

Local>>>>>>>
Teatro
Idade>>>>>>>
a partir de 14 anos
Duração>>>>>>>
107 minutos

WORKSHOP DE CULINÁRIA DO FILME "A GRANDE NOITE"
RECEITAS ITALIANAS, COM BRENO LERNER

A história do filme passa-se nos anos 50 e nota-se a dificuldade de obtenção de ingredientes hoje comuns em supermercados, como o arroz arbório e ervas, além da completa estranheza e desconfiança com que é recebido o risoto. A grande estrela do filme é o Tímpano ou Timballo, receita de provável origem napolitana, com mais de 50 versões conhecidas, todas elas de dificílimo e longo preparo. De acordo com Primo, um dos donos do restaurante do filme, um Tímpano é um tambor com as melhores coisas do mundo lá dentro. As estrelas coadjuvantes são o risotto e a bruschetta, de que trataremos em nosso workshop. Em todo caso, para os mais corajosos, trazemos uma receita de Tímpano do chef Luigi Tartari que foi publicada numa matéria da revista Gula sobre o filme (adaptada para retirada de carne de porco).

Local>>>>>>>
Auditório
Idade>>>>>>>
a partir de 14 anos
Duração>>>>>>>
80 minutos

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Entrada gratuita | Ingressos limitados à lotação do espaço | Retirada dos ingressos para o cine-gastronomia e workshop de culinária com 1 hora de antecedência do filme. O Centro da Cultura Judaica convida a todos a colaborar com 1kg de alimento não perecível a ser doado ao Programa Ajuda Alimentando.

sábado, 18 de abril de 2009

Um pouco de história

Me encontrei com um livro muito interessante dia desses, o nome é História da Gastronomia da Ed. Senac (Nacional) - Maria Leonor de Soares Leal.
E estou em estado de graça, de paixão.

Neste post algo para compartilhar, uma história curtinha, mas muito boa.

"O ato de comer tem um sentido simbólico para o homem. Comer do mesmo pão por exemplo, é alimentar-se juntos, é sinal de fraternidade, solidariedade e companheirismo. Daí a expressão com pão ter dado origem à palavra companheiro e a expressão criar com o alimento ter originado a palavra aluno."